O lado oculto da internet (Parte II – alguns comentários)
A maioria das pessoas que entram no ContraDemocracia mediante ferramentas de busca chegam até aqui porque estavam procurando informações sobre a Deep Web. Por um lado isso é interessante, como escrevi no primeiro artigo alguns buscadores da Deep Web indexam bancos de dados importantes e que são negligenciados por ferramentas mais famosas, como o Google. Nesse grupo podemos incluir os bancos de dados de universidades, algumas revistas acadêmicas, textos antigos e de qualidade que não aparecem nos buscadores mais populares, enfim, as possibilidades são infinitas.
Quando iniciei a série tinha como objetivo escrever três artigos sobre a internet invisível: o primeiro, que pode ser consultado aqui ;
o segundo que iria tratar da Dark Web e um terceiro que seria uma reflexão sobre os limites do anonimato na rede.
A demora para esse segundo artigo não foi fruto só da minha falta de tempo ou pouca assiduidade na atualização do blog. É que eu pensei muito se deveria escrever sobre a Dark Web. Obviamente o ContraDemocracia não é a única fonte de informação sobre esse universo oculto da internet. Há amplo material, a maioria em língua inglesa, que pode ser consultado usando o badalado Google. Mas eu refleti se EU queria ser uma fonte de informação sobre isso.
E por qual razão protelei?
Bom, eu usei uma ferramenta para acessar a Dark Web, ou pelo menos uma pequeníssima parcela dela. É que existe desde a Dark Web menos complicada para acessar – e mesmo assim um usuário que só domina ferramentas básicas teria alguma dificuldade – e a Dark Web para usuários avançados que conhecem ferramentas de decodificação, programação e coisas mais complicadas.
Vou falar um pouco sobre por onde andei.
A primeira coisa que salta aos olhos é que navegamos em completo anonimato e podemos postar conteúdo também anônimo. O servidor não arquiva seus dados, de modo que se alguém postar algo ilegal e a autoridade de algum país requisitar dados sobre a pessoa, o servidor não vai oferecer esses dados, mesmo que quisesse não poderia, como eu disse, eles não ficam armazenados.
Há um lado positivo e um lado negativo nisso. Para pessoas que vivem em
países como a China, onde a internet é muito controlada, a Dark Web oferece a possibilidade de postar denúncias, informações e críticas ao governo sem que o governo possa fazer algo contra essas pessoas. Nesses casos a Dark Web pode funcionar como uma forma de driblar o julgo de Estados autoritários que tentam controlar todos os aspectos da vida de seus cidadãos. Esse é evidentemente o lado positivo. O lado negativo é que nem todo mundo usa o anonimato para causas nobres. Acho que para bom entendedor dizer só isso já basta, certo? E foi justamente por isso que duvidei se deveria escrever sobre a Dark Web. Pois bem, decidi que não darei detalhes sobre o que eu vi e tampouco vou ensinar como acessar o que acessei. Os dois outros artigos da série foram transformados em um. Neste aqui que você lê agora!
Então vamos para a reflexão…
Li uma entrevista muito instigante do criador de uma ferramenta para Dark Web. Segundo ele não é correto que o Estado possa controlar o que pensam e o que escrevem seus cidadãos. A internet convencional permite esse controle. A produção de conteúdo, segundo esse mesmo rapaz, deve ser livre e acima do controle estatal já que representa nosso direito fundamental de liberdade ideológica e intelectual. Sim, mas e quando essa liberdade ideológica e intelectual é usada para promover e divulgar crimes?
Alguns criminosos virtuais usam essas ferramentas para trocar informações sobre contas bancárias e dados pessoais de terceiros e dessa forma cometerem toda sorte de crimes possíveis quando temos posse dessas informações. E cito apenas um crime possível, a imaginação humana não tem limites.
Então deveríamos eliminar algo que surgiu a partir de uma demanda até legítima (liberdade ideológica e intelectual) por causa dos desvios? Não sei… mas mesmo se que quiséssemos duvido que seria possível. A internet é um divisor de águas e inaugurou uma nova era na história humana, uma nova era que não se caracteriza apenas pela velocidade no fluxo de informações, pelas facilidades de comunicação, mas também pela extrema dificuldade de ser controlada. É inegável que as leis tal como as conhecemos não funcionam na e para a internet. Todas as tentativas de normatização da rede falharam miseravelmente até agora. Jovens brilhantes todos os dias criam novos aplicativos, novos vírus, novas ferramentas. A imaginação humana não tem limites e a internet é um retrato dela, e até hoje ninguém conseguiu controlar a imaginação.
Com um computador e acesso a internet é possível fazer coisas realmente incríveis. Desde aprender um novo idioma no LiveMocha, ver um filme antigo e difícil de encontrar, divulgar artigos como esse que você lê agora, acessar bibliotecas, assistir aulas… tantas coisas. O novo mundo previsto por Asimov já nasceu, a pergunta é: o que faremos com ele?