Descobri por um feliz acaso o trabalho da escritora Ilana Mercer. Assim que soube um pouco mais sobre a carreira dela comprei o mais recente livro lançado pela senhora Mercer “Into the Cannibal’s pot: lessons for America from Post-Apartheid South Africa” (numa tradução literal “No pote do canibal: lições para a América [EUA] da África do Sul pós-apartheid”). Infelizmente acho difícil que esse livro poderoso e polêmico seja traduzido para nosso idioma. É que o ímpeto pelo controle dos discursos e pensamentos está assumindo proporções assustadoras no nosso país. Pretendo escrever uma resenha sobre o livro! Espero que a resenha dê uma força para divulgar o trabalho dela e inspirar alguma editora brasileira a tomar coragem e traduzir o livro.
Mas vamos falar um pouco mais sobre a Ilana Mercer.
Atualmente a escritora com filiação ao liberalismo clássico vive nos EUA. Escreve para o World Net Daily, o site conservador mais visitado da internet. Já escreveu também para o The Financial Post, The Globe and Mail, The Vancouver Sun dentre outros periódicos da América do Norte e mundo, como os londrinos Jewish Chronicle e Quartely Review.
Ilana Mercer nasceu na África do Sul, filha de Rabbi Ben Isaacson, um opositor do apartheid que na década de 1960 teve que deixar o país com a família rumo à Israel por causa das ameaças que sofria da polícia sul africana. Durante a década de 1980 Ilana Mercer retornou à África do Sul onde se casou. Em 1995 imigrou com a família para o Canadá e depois para os EUA.
Em minha opinião a tradição intelectual da linha de autores como de E. Burke tem um peso significativo na leitura de Mercer, segundo a qual as liberdades individuais só se realizam numa sociedade onde prevalece a ordem. A trindade: liberdade, vida e propriedade é tida como princípio máximo a ser garantido pelo Estado. Qualquer intervenção além das que visam garantir essa ordem e segurança é considerada como uma estrapolação das atribuições estatais que podem redundar num regime opressor.
Resumi muito a história e pensamento da autora. Sugiro que os leitores que dominem a língua inglesa visitem a biografia de Ilana Mercer disponível no website dela . Aos pouquinhos trarei mais informações sobre ela em língua portuguesa.
Além de tudo isso Ilana Mercer é uma mulher muito gentil! Enviei um e-mail para ela comentando sobre o quanto gostei do “Into de Cannibal’s Pot” e ela prontamente me respondeu. Eu disse que seria ótimo se os livros dela fossem disponibilizados em português para que nós aqui no Brasil tivéssemos acesso a um trabalho de fôlego e ousado, algo que falta à nossa intelectualidade. Mercer gentilmente me autorizou a traduzir alguns artigos dela e começo as traduções com esse post. O ideal, evidentemente, seria que um tradutor profissional fizesse este trabalho. A escrita de Mercer é muito elegante, erudita e com pitadas de ironia, não é fácil traduzir, mas me esforçarei ao máximo para ser fiel ao conteúdo.
Se alguém detectar qualquer erro na tradução, por favor, façam as correções nos comentários que eu atualizarei o texto.
Atenção!!! Se alguém quiser divulgar o texto em outros blogs ou sites deve obrigatoriamente linkar a tradução para o original disponível no site de Ilana Mercer, ela é a detentora de todos os direitos autorais! Vou logo avisando que se eu pegar alguém reproduzindo o texto sem os devidos créditos “vou fazer” a X9 e denunciarei! Vê lá! Direitos autorais é coisa séria.
Quem gostar não só pode como deve adquirir os livros dela. O preço é justo e vale cada centavo!
Sem mais delongas!
Salve as pessoas; mate o superestado europeu
Por Ilana Mercer (link para o artigo no original)
“Um homem honesto”, escreveu Ayn Rand no livro Atlas Shrugged* “é aquele que sabe que não deve consumir mais do que produziu”. Onde esse ensinamento abandonou os gregos?
Pela segunda vez desde 2010 os ministros das finanças da zona do Euro deram a Grécia um salva-vidas financeiro, dessa vez da ordem de $172 bilhões. Os bancos europeus concordaram em anular mais de 50% da dívida da Grécia, perdoando um débito de $100 bilhões.
Mesmo assim Atenas, como Washington, é corrupta até a medula. Continua a gastar mais do que possui. O mercado de trabalho grego precisa ser liberalizado. Um salário mínimo alto impede contratações. E, conforme uma nota da BBC News “o hábito de pagar um ‘bônus de feriado’ equivalente a um ou dois meses de pagamento extra” persiste. Não é preciso ser um oráculo de Delfos para vaticinar o próximo estágio da situação da Grécia: o rebaixamento da nota de risco de crédito ao status de lixo.
Austeridade, contudo, é um eufemismo entre os políticos e seu bando de animais da mídia para “retração e reforma de longo prazo” no setor público. Implícito em suas críticas à “austeridade” está a idéia de que infligir danos ao aparato estatal grego inevitavelmente destruirá a sociedade grega.
Ao contrário. Estado e Sociedade jamais deveriam ser confundidos.
Tente explicar ao nosso presidente** que quanto maior o estado menor a sociedade civil. Enquanto entretinha os líderes da União Européia, no último mês de novembro, o presidente Barack Obama prometeu que a América*** ajudaria sua alma gêmea européia a resistir à crise da zona do Euro. Ele disse o seguinte (bem, algo como isso): “A União Européia é o nosso maior parceiro comercial. Não podemos nos permitir a deixá-la sucumbir. Enviamos muito de nossos bens e serviços para a Europa. Nós compartilhamos de seus valores”. Sem nossos cúmplices europeus não poderemos derrotar o Irã e a Síria. Ou bombardear e regular o mundo e reduzir esses povos à submissão. A desintegração da zona do Euro pode ser um prenúncio das coisas que acontecerão aos EUA. (Okay, a última parte foi adicionada por improviso, mas eu acho que já conheço meu presidente).
Os riscos são muito elevados, você diz, Senhor Presidente? Para quem? Cui Bono****? Quem se beneficia, Barack?
Faça essas perguntas para si todas as vezes que um repórter/especialista/analista/político insistir histericamente, sem qualquer boa razão, que a União Européia e a zona do Euro não podem ser deixadas para perecer de uma morte natural.
Perguntar o que vai acontecer se o colosso colapsar é um convite aos non sequiturs***** e argumentos circulares das partes interessadas. Na tradição de “uma afirmação que não segue logicamente aquilo que precede”, David Böcking do Spiegel Online (um jornal excepcionalmente inteligente; os alemães são inegavelmente impressionantes) sumarizou os argumentos contra a quebra da zona do Euro. Os tratados, argumenta Böcking, não permitem um rompimento fácil. Disputas legais poderiam surgir sobre dívidas se o estado que se desvinculasse devesse ao estado bismarckiano, como é o caso da Grécia.
Sobretudo, os tecnocratas titulares da União Européia perderiam desenvoltura no cenário mundial.
Você não foi convencido por essas justificativas legalistas para manter uma união em rigor mortis? Então considere as seguintes realidades econômicas:
A carne e o sangue do comércio americano não estão com Barack ou Bruxelas, a sede do governo central europeu, mas mais com o povo belga, os Países Baixos, Alemanha, França e Grécia. Se as estatísticas das instituições financeiras pelas quais se guiaram europeus e americanos nos dois lados do Atlântico falharem, bem, então os produtores individuais e comerciantes estarão liberados para produzir e comercializar sem essas impostas, artificiais e inorgânicas estruturas.
A falha da Grécia é uma falha do governo, não necessariamente das pessoas – uma falha do governo que desperdiçou 160% do PIB. Certamente muitos dos governados, talvez a maioria, falharam também ao serem seduzidos pelo fruto proibido do estado.
“Não podemos deixar nossos governantes nos sobrecarregar com dívidas perpétuas” Thomas Jefferson advertiu. “Devemos conduzir nossa eleição entre a economia e liberdade, ou exuberância e servidão”. Por rejeitar a “economia e liberdade” a Grécia obteve a “servidão”. Athenas, o berço da democracia, também tem ido contra a democracia direta por recusar-se a permitir um referendo popular mediante o qual se decidiria se o país deve deixar a zona do Euro.
Na falta dessa opção, os dionísios inadimplentes estão presos. Comparados com os produtivos alemães, por exemplo, os gregos constituem uma cara e pouco eficiente força de trabalho. Eles não podem competir. Estivessem eles em um compasso moral e intelectual – e autorizados a traçar seus destinos – as pessoas da Grécia optariam por deixar a zona do Euro e a União Européia. Os gregos poderiam então reclamar sua soberania. Primeiro reestabelecendo o dracma, sua antiga moeda. Depois, poderiam escolher deixar o câmbio flutuante em detrimento ao dos estados membros da União Européia de modo a incrementar o apelo do desbotado mercado de trabalho grego.
Finalmente, essas custódias sobre o superestado seriam um meio de expelir a ocupação da União Européia, FMI e Banco Central Europeu, cujos funcionários estão estacionados em Atenas exercendo supervisão.
Notas da tradutora
*”A Revolta de Atlas” no Brasil
** Barack Obama
*** No caso Estados Unidos da América. É comum nos EUA se referir ao país como América.
**** Expressão latina que significa algo como “para o benefício de quem?”
***** falácia lógica na qual as conclusões não são coerentes com as premissas.
Todos os direitos autorais pertencem à Ilana Mercer.