Archive for the ‘ Política ’ Category

Idas e vindas

Morei um tempo perto de duas estações de metrô. Era a época na qual eu achava ótima a idéia do rodízio de carros na cidade de São Paulo e me horrorizava quando via carros ocupados apenas por seus motoristas devidamente enfileirados nos monstruosos engarrafamentos paulistanos. “Mais amor, menos motor!” vociferava ao lado dos moderninhos e suas bikes de dois mil reais.

Até que me mudei para um bairro afastado da região central. Particularmente gostei da mudança pela tranquilidade e silêncio do condomínio fechado onde estou vivendo, mas nada é perfeito. O canto dos passarinhos pela manhã custou algo – agora moro longe de qualquer estação de metrô, num bairro feito para quem tem carros, ou seja, transporte público não é o forte da região. Ter carro aqui não é luxo, é necessidade mesmo. Não, não dá para comprar uma bike de dois mil reais para enfrentar as marginais, né?

E senti o gosto amargo de precisar escapar do rodízio. Já tenho duas multas na conta por não ter conseguido chegar ao meu destino graças ao trânsito e a falta de opção de transporte. O possante e eu, devidamente presos no trânsito barulhento e com o estresse dos radares e das canetas nervosas dos agentes da CET.

Veio a constatação: é fácil demais defender menos motor quando existe a opção de usar o metrô. Menos motor… aham… e mais metrô, certo?

É evidente que acabar com o rodízio não vai ajudar muito, o trânsito já é ruim com, imaginem sem. Mas é mais evidente ainda a ingenuidade dos doutos governantes que não sacaram que virou prática comum ter dois veículos para escapar do rodízio. Ou eles acham que é por acaso o crescimento de ofertas de vagas nos prédios novos? O rodízio pelo rodízio mais atrapalha do que facilita a vida dos cidadãos que vivem em São Paulo. A lei sem uma estrutura eficiente para sustenta-la vira um suplício para os moradores da cidade. É preciso melhorar a oferta de ônibus que respeitem seus horários, é preciso aumentar a malha ferroviária e metroviária e buscar opções alternativas de transporte rápido e com preços justos.

Uma opção que poderia ser ótima para bairros residenciais e mais afastados do centro são os bondes há muito desativados nas cidades brasileiras como principal alternativa de transporte. Em Amsterdam pude usar os excelentes, silenciosos e confortáveis “trams” – em bom tupiniquês “bonde” mesmo. Poderia ser uma boa idéia colocar esses charmosos bondes nos bairros residenciais e liga-los às estações de metrô ou terminais rodoviários. Não dá para imaginar um tram passando pela Av. Paulista, pioraria o trânsito, mas bondes chegando até o terminal da Barra Funda vindos de bairros como a Lapa, Pacaembu, Jaguará e Pirituba, ou até mesmo passando por ruas afastadas das estações de trem e conectando-as, representariam uma opção consistente para as pessoas deixarem os carros nas garagens. Eu adoraria deixar o meu paradinho, vamos considerar que os preços dos estacionamentos em Sampa estão proibitivos!

Tram de Amsterdam

Os bondes são mais simples, rápidos e baratos de implementar do que estações de metrô, que custam caro e demoram anos para serem concluídas. Outra vantagem é que são menos poluentes e os novos bondes são silenciosos e confortáveis.  Agora fica a pergunta: Por que diabos os governantes não ressuscitam de vez os saudosos bondinhos?  

Gostou? Leia também:

UPPs e como enganar (mais uma vez) o povo do Rio de Janeiro

Breviário da política brasileira – Parte 2: eleições municipais

Se o TRE não vai divulgar, nós divulgamos!

Breviário da política brasileira – Parte 2: eleições municipais

Quem ainda acredita que as eleições municipais marcam o início de um debate sério sobre os rumos dos municípios brasileiros é um idealista. Nada contra idealistas, mas a política não funciona assim, especialmente a política torta do nosso país. Aqui as coisas são bastante pragmáticas, leia-se, funcionam bem para poucos interessados.

O Rio de Janeiro é um exemplo ótimo. A segunda maior cidade do país e futura sede dos jogos olímpicos (uhul!?!) há tempos tem sofrido nas mãos de prefeitos grotescos. César Maia, que por um bom tempo foi queridinho, fez obras escabrosas: desde a lambança que arrumou em Marechal Hermes onde destruiu uma linda pracinha e seu coreto, até a Cidade da Música, um elefante branco que custou caro, muito caro para os cofres públicos e que recebe uma platéia mais entomológica do que sapiens. São apenas dois exemplos, esse menu amargo é bem conhecido pelos cariocas.

Agora o ex-prefeito maluquinho se enfiou numa aliança tão bizarra quanto flamenguista torcendo pelo Vasco: aliou-se ao velho desafeto, Antony Garotinho, que em termos de obras dantescas não deixa devendo à Maia! Vide o Piscinão de Ramos, paraíso de coliformes fecais à beira de uma “praia” que mais parece uma latrina. E desse quid pro quo sairá a chapa de oposição ao não menos esperto Eduardo Paes.

Essa é a política brasileira, promovendo a paz de sua douta classe… que bom seria se isso beneficiasse o Rio de Janeiro, nunca foi o caso. De guerra os cariocas entendem bem, desde o berço. 

Love will tear us apart

A crise grega e o estado gigante – Tradução do artigo de Ilana Mercer

Descobri por um feliz acaso o trabalho da escritora Ilana Mercer. Assim que soube um pouco mais sobre a carreira dela comprei o mais recente livro lançado pela senhora Mercer “Into the Cannibal’s pot: lessons for America from Post-Apartheid South Africa” (numa tradução literal “No pote do canibal: lições para a América [EUA] da África do Sul pós-apartheid”). Infelizmente acho difícil que esse livro poderoso e polêmico seja traduzido para nosso idioma. É que o ímpeto pelo controle dos discursos e pensamentos está assumindo proporções assustadoras no nosso país. Pretendo escrever uma resenha sobre o livro! Espero que a resenha dê uma força para divulgar o trabalho dela e inspirar alguma editora brasileira a tomar coragem e traduzir o livro.

Mas vamos falar um pouco mais sobre a Ilana Mercer.

Atualmente a escritora com filiação ao liberalismo clássico vive nos EUA. Escreve para o World Net Daily, o site conservador mais visitado da internet. Já escreveu também para o The Financial Post, The Globe and Mail, The Vancouver Sun dentre outros periódicos da América do Norte e mundo, como os londrinos Jewish Chronicle e Quartely Review.

Ilana Mercer nasceu na África do Sul, filha de Rabbi Ben Isaacson, um opositor do apartheid que na década de 1960 teve que deixar o país com a família rumo à Israel por causa das ameaças que sofria da polícia sul africana. Durante a década de 1980 Ilana Mercer retornou à África do Sul onde se casou. Em 1995 imigrou com a família para o Canadá e depois para os EUA.

Em minha opinião a tradição intelectual da linha de autores como de E. Burke tem um peso significativo na leitura de Mercer, segundo a qual as liberdades individuais só se realizam numa sociedade onde prevalece a ordem. A trindade: liberdade, vida e propriedade é tida como princípio máximo a ser garantido pelo Estado. Qualquer intervenção além das que visam garantir essa ordem e segurança é considerada como uma estrapolação das atribuições estatais que podem redundar num regime opressor.

Resumi muito a história e pensamento da autora. Sugiro que os leitores que dominem a língua inglesa visitem a biografia de Ilana Mercer disponível no website dela  . Aos pouquinhos trarei mais informações sobre ela em língua portuguesa.

Além de tudo isso Ilana Mercer é uma mulher muito gentil! Enviei um e-mail para ela comentando sobre o quanto gostei do “Into de Cannibal’s Pot” e ela prontamente me respondeu. Eu disse que seria ótimo se os livros dela fossem disponibilizados em português para que nós aqui no Brasil tivéssemos acesso a um trabalho de fôlego e ousado, algo que falta à nossa intelectualidade. Mercer gentilmente me autorizou a traduzir alguns artigos dela e começo as traduções com esse post. O ideal, evidentemente, seria que um tradutor profissional fizesse este trabalho. A escrita de Mercer é muito elegante, erudita e com pitadas de ironia, não é fácil traduzir, mas me esforçarei ao máximo para ser fiel ao conteúdo.

Se alguém detectar qualquer erro na tradução, por favor, façam as correções nos comentários que eu atualizarei o texto.

 Atenção!!! Se alguém quiser divulgar o texto em outros blogs ou sites deve obrigatoriamente linkar a tradução para o original disponível no site de Ilana Mercer, ela é a detentora de todos os direitos autorais! Vou logo avisando que se eu pegar alguém reproduzindo o texto sem os devidos créditos “vou fazer” a X9 e denunciarei! Vê lá! Direitos autorais é coisa séria.   

Quem gostar não só pode como deve adquirir os livros dela. O preço é justo e vale cada centavo!

 Sem mais delongas!

Salve as pessoas; mate o superestado europeu

Por Ilana Mercer (link para o artigo no original)

 “Um homem honesto”, escreveu Ayn Rand no livro Atlas Shrugged* “é aquele que sabe que não deve consumir mais do que produziu”. Onde esse ensinamento abandonou os gregos?

Pela segunda vez desde 2010 os ministros das finanças da zona do Euro deram a Grécia um salva-vidas financeiro, dessa vez da ordem de $172 bilhões. Os bancos europeus concordaram em anular mais de 50% da dívida da Grécia, perdoando um débito de $100 bilhões.

Mesmo assim Atenas, como Washington, é corrupta até a medula. Continua a gastar mais do que possui. O mercado de trabalho grego precisa ser liberalizado. Um salário mínimo alto impede contratações. E, conforme uma nota da BBC News “o hábito de pagar um ‘bônus de feriado’ equivalente a um ou dois meses de pagamento extra” persiste. Não é preciso ser um oráculo de Delfos para vaticinar o próximo estágio da situação da Grécia: o rebaixamento da nota de risco de crédito ao status de lixo.

Austeridade, contudo, é um eufemismo entre os políticos e seu bando de animais da mídia para “retração e reforma de longo prazo” no setor público. Implícito em suas críticas à “austeridade” está a idéia de que infligir danos ao aparato estatal grego inevitavelmente destruirá a sociedade grega.

Ao contrário. Estado e Sociedade jamais deveriam ser confundidos.

Tente explicar ao nosso presidente** que quanto maior o estado menor a sociedade civil. Enquanto entretinha os líderes da União Européia, no último mês de novembro, o presidente Barack Obama prometeu que a América*** ajudaria sua alma gêmea européia a resistir à crise da zona do Euro. Ele disse o seguinte (bem, algo como isso): “A União Européia é o nosso maior parceiro comercial. Não podemos nos permitir a deixá-la sucumbir. Enviamos muito de nossos bens e serviços para a Europa. Nós compartilhamos de seus valores”. Sem nossos cúmplices europeus não poderemos derrotar o Irã e a Síria. Ou bombardear e regular o mundo e reduzir esses povos à submissão. A desintegração da zona do Euro pode ser um prenúncio das coisas que acontecerão aos EUA. (Okay, a última parte foi adicionada por improviso, mas eu acho que já conheço meu presidente).

Os riscos são muito elevados, você diz, Senhor Presidente? Para quem? Cui Bono****? Quem se beneficia, Barack?

Faça essas perguntas para si todas as vezes que um repórter/especialista/analista/político insistir histericamente, sem qualquer boa razão, que a União Européia e a zona do Euro não podem ser deixadas para perecer de uma morte natural.

Perguntar o que vai acontecer se o colosso colapsar é um convite aos non sequiturs***** e argumentos circulares das partes interessadas. Na tradição de “uma afirmação que não segue logicamente aquilo que precede”, David Böcking do Spiegel Online (um jornal excepcionalmente inteligente; os alemães são inegavelmente impressionantes) sumarizou os argumentos contra a quebra da zona do Euro. Os tratados, argumenta Böcking, não permitem um rompimento fácil. Disputas legais poderiam surgir sobre dívidas se o estado que se desvinculasse devesse ao estado bismarckiano, como é o caso da Grécia.

Sobretudo, os tecnocratas titulares da União Européia perderiam desenvoltura no cenário mundial.

Você não foi convencido por essas justificativas legalistas para manter uma união em rigor mortis? Então considere as seguintes realidades econômicas:

A carne e o sangue do comércio americano não estão com Barack ou Bruxelas, a sede do governo central europeu, mas mais com o povo belga, os Países Baixos, Alemanha, França e Grécia. Se as estatísticas das instituições financeiras pelas quais se guiaram europeus e americanos nos dois lados do Atlântico falharem, bem, então os produtores individuais e comerciantes estarão liberados para produzir e comercializar sem essas impostas, artificiais e inorgânicas estruturas.

A falha da Grécia é uma falha do governo, não necessariamente das pessoas – uma falha do governo que desperdiçou 160% do PIB. Certamente muitos dos governados, talvez a maioria, falharam também ao serem seduzidos pelo fruto proibido do estado.

“Não podemos deixar nossos governantes nos sobrecarregar com dívidas perpétuas” Thomas Jefferson advertiu. “Devemos conduzir nossa eleição entre a economia e liberdade, ou exuberância e servidão”. Por rejeitar a “economia e liberdade” a Grécia obteve a “servidão”. Athenas, o berço da democracia, também tem ido contra a democracia direta por recusar-se a permitir um referendo popular mediante o qual se decidiria se o país deve deixar a zona do Euro.

Na falta dessa opção, os dionísios inadimplentes estão presos. Comparados com os produtivos alemães, por exemplo, os gregos constituem uma cara e pouco eficiente força de trabalho. Eles não podem competir. Estivessem eles em um compasso moral e intelectual – e autorizados a traçar seus destinos – as pessoas da Grécia optariam por deixar a zona do Euro e a União Européia. Os gregos poderiam então reclamar sua soberania. Primeiro reestabelecendo o dracma, sua antiga moeda. Depois, poderiam escolher deixar o câmbio flutuante em detrimento ao dos estados membros da União Européia de modo a incrementar o apelo do desbotado mercado de trabalho grego.

Finalmente, essas custódias sobre o superestado seriam um meio de expelir a ocupação da União Européia, FMI e Banco Central Europeu, cujos funcionários estão estacionados em Atenas exercendo supervisão.

 

Notas da tradutora

*”A Revolta de Atlas” no Brasil

** Barack Obama

*** No caso Estados Unidos da América. É comum nos EUA se referir ao país como América.

**** Expressão latina que significa algo como “para o benefício de quem?”

***** falácia lógica na qual as conclusões não são coerentes com as premissas.

Todos os direitos autorais pertencem à Ilana Mercer

Artigo sobre Dilma Rousseff na “The Economist” (tradução)

A próxima edição impressa da revista The Economist conta com um artigo sobre o primeiro ano do governo de Dilma Rousseff. Como é sempre interessante ler opiniões de estrangeiros sobre a política brasileira, que sofre com as análises miseravelmente pobres e viciadas da imprensa brasileira, trago o artigo da “The Economist” traduzido. A tradução é minha. Eu quis proporcionar  acesso à esse texto para leitores e leitoras brasileiros(as) que não dominam o inglês. Todavia, não sou tradutora profissional. Se alguém encontrar alguma incorreção na tradução, por favor, pode entrar em contato ou corrigir aqui nos comentários.

E assim inauguramos a série de traduções de artigos aqui no blog. Vou tentar traduzir ao menos um artigo interessante por mês. Se alguém tiver uma sugestão para o próximo mês pode colocá-la  nos comentários também.

Sem mais delongas!

Indo por conta própria

Devagar, mas com segurança, a presidenta está deixando sua marca no governo

The Economist

Durante seu primeiro ano como presidenta do Brasil, Dilma Rousseff foi cuidadosa para não fazer mudanças muito grandes de modo que fossem vistas como uma censura a Luiz Inácio Lula da Silva, seu predecessor e patrono. Ela esperou para substituir os ministros clientelistas que ela herdou de Lula até que as acusações de corrupção contra eles se tornassem esmagadoras, e implementou apenas reformas limitadas. Muitos especialistas esperavam que em 2012 ela iria tirar vantagens do período calmo entre o Natal e o Carnaval para ser mais ambiciosa – apenas para se desapontarem com mais incrementalismo.

Mesmo que a presidenta tenha evitado gestos ousados, ela progressivamente emergiu da sombra de Lula para remodelar o estado brasileiro de acordo com seu próprio jeito. Com um ano de mandato, a administração de Rousseff se mantém firme em seus princípios, mais técnica, mais leal, e muito mais feminina do que a de Lula. Resta observar como essas mudanças a tornarão mais hábil do que Lula para levar a cabo as reformas estruturais necessárias ao Brasil.

Rousseff deve sua vitória eleitoral de 2010 inteiramente à Lula, que a escolheu como sucessora. Por outro lado, ele deve sua popularidade ao rápido crescimento econômico do Brasil em seu segundo mandato e a programas sociais que ajudaram a reduzir a pobreza e desigualdade. Contudo, Lula era um consumado negociador pragmático que, como muitos outros presidentes brasileiros, comprou lealdade distribuindo cargos públicos e fisiologismo. Muito das reformas econômicas que calcaram o crescimento durante o governo Lula foram fruto do trabalho de seu predecessor.

Depois de assumir o governo, Rousseff manteve muitos dos ministros de Lula ao invés de colocar seus próprios escolhidos. Desde então ela demitiu sete que enfrentaram acusações de corrupção, embora primeiramente tenha os defendido. Muitos foram substituídos por aqueles escolhidos por ela, mas o pragmatismo em alguns momentos prevaleceu. Mário Negromonte, expulso do ministério das cidades no início desse mês, foi substituído por seu chefe de partido, Aguinaldo Ribeiro, que também já enfrentou acusações de corrupção enquanto era cogitado para o cargo.

Durante o primeiro ano do mandato de Rousseff apenas uma grande reforma, que liberou o governo de algumas obrigações de gastos constitucionais, passou pelo Congresso. Conseguir concluir alguma coisa em Brasília é um negócio lento que requer negociações tortuosas com parceiros da coalisão. A liberdade de manobra de Dilma foi muito limitada por sua inexperiência e por débitos políticos com aliados que a ajudaram a ser eleita.

Mas a presidência de Dilma Rousseff não pode ser sumarizada ainda: há fortes indícios de que ela está preparando o terreno para uma agenda mais ambiciosa. Muitas de suas nomeações seriam vistas fora de lugar sob Lula. Eleonora Menicucci, a nova ministra da Secretaria das Mulheres, é uma professora de saúde pública que é próxima à presidenta desde quando elas dividiram uma cela durante a ditadura brasileira. Rousseff também nomeou Marco Antonio Raupp, um respeitado físico, como ministro da ciência quando seu predecessor mudou de cargo.

A nomeação de Maria das Graças Foster para o cargo máximo da Petrobrás, a companhia de petróleo controlada pelo Estado, é particularmente notável. Uma engenheira que trabalha para a Petrobrás há 31 anos, Foster expressou sua “gratidão e lealdade incondicional” à Dilma Rousseff quando ela assumiu o cargo no dia 13 de fevereiro. Isso pode não ter agradado acionistas minoritários, mas a experiência de Foster mais do que compensou. As ações da Petrobrás subiram quando o nome de Foster foi anunciado.

Com seu rearranjo por trás, Dilma Rousseff vai agora avançar com seu programa. Embora ela tenha tido pouca sorte no Congresso, ela propôs a reforma das pensões, regras para parar o desflorestamento e uma proposta para dividir os rendimentos do offshore do petróleo entre os estados e o governo federal. E ela está arranjando seu gabinete a favor dos seus objetivos e da decência dos serviços públicos para os eleitores de rendimentos moderados.

O Brasil resistiu à tempestade da economia global muito bem. Depois da agitação de 2010, a economia teve perspectivas de crescimento de 3% no ano passado, isso devido a um arrefecimento no terceiro semestre. Um câmbio menos alto significa o crescimento das exportações. Mas cortes de juros devem reascender a demanda doméstica. Economistas preveem um crescimento entre 3 e 4% neste ano.

Enquanto isso, pesquisas recentes colocam Dilma Rousseff com um índice de 59% de aprovação, um crescimento de dez pontos desde a metade do ano passado. Isso poderia fortalecê-la para reduzir sua pesada coalisão. Sete partidos estão representados no gabinete e a oposição tem apenas 91 representantes dentre os 513 na Câmara. Livrar-se dos mais problemáticos nomes dentre os aliados ajudará a presidenta a se fortalecer enquanto relembrará o resto sobre quem é a chefa.

Conflito entre Israel e Palestina e o debate entre João Pereira Coutinho e Vladimir Safatle

Estão todos acompanhando o debate ferrenho entre João Pereira Coutinho e Vladimir Safatle sobre os conflitos entre israelenses e palestinos? Vale a pena!

O primeiro texto publicado que gerou toda a troca de farpas é de autoria de Safatle e foi publicado no dia 5 de fevereiro de 2012:

 A Cisjordânia e a “política da invisibilidade” 

O equívoco no texto de Safatle é ignorar que é difícil chegar a um acordo com um povo que simplesmente prega a destruição de outro. Estou falando dos palestinos. Todas as tentativas de acordo foram negadas pelos palestinos. Recentemente o presidente do Irã, simpático a causa palestina, sumarizou bem a questão quando não só negou o holocausto como pregou a destruição de Israel. Presidente este de um país que financia grupos terroristas como o Hezbollah e o Hamas. Isso sem falar que o articulista e professor Safatle insiste na velha fórmula da vítima versus o algoz: a miséria do mundo não Ocidental é culpa do mundo Ocidental. A velha história de jogar a responsabilidade para os terceiros. 

Veio então a resposta de João Pereira Coutinho publicado no dia seguinte:

O turista ocidental

Pereira Coutinho dá um belo exemplo sobre o que diferencia um professor de um militante. Analisar os fatos tão-somente para comprovar suas ideologias não é só danoso para a produção do conhecimento, é desonesto mesmo.

Safatle não deixou barato:

Chamar de “muro” um muro

E assim fomos todos informados de que “muro” significa “muro”. Piadas a parte, da mesma forma que reconhecer os excessos cometidos contra os palestinos não significa ser anti-israel, reconhecer que Israel sofre graves ameaças e atentados não significa ser anti-palestina.

E veio a resposta de Coutinho:

Resposta a Vladimir Safatle

Ela foi publicada no dia 13 de fevereiro, imagino que Safatle responderá. Vamos aguardar as cenas do próximo capítulo! Embora possamos discordar de um ou outro lado, ambos trazem informações importantes e pontos de vistas distintos. Acho que no fim ganha todo mundo que tem a oportunidade de acompanhar um debate sem firulas e de bom nível.

Novidades!

Um gentil leitor colocou aqui nos comentários a resposta do Safatle que saiu hoje, dia 22/02/2012. Segue o link:

Um esclarecimento final

Pelo título o Safatle parece querer encerrar a discussão. Será que o Coutinho responderá? 

O comunismo desnudado

Começou um novo ano e eu volto a escrever por aqui, agora com a promessa de tentar publicar ao menos dois textos por semana. Esse blog foi criado com uma finalidade que vai além de apenas compartilhar informações, textos e idéias, vamos ver se aos poucos esse objetivo maior se concretiza.

Este é fundamentalmente um lugar de reflexão política e, portanto, urge proporcionar um espaço de formação dentro das limitações que o formato Blog impõe. Felizmente não é preciso inventar a roda, há bom material no mundo virtual que é pouco conhecido pelo público brasileiro. As vezes por estar somente disponível em língua estrangeira, as vezes por ter sido pouco divulgado. O que vou compartilhar nesse post se enquadra na segunda categoria.

Trata-se do ótimo documentário ‘The Soviet Story’, produzido em 2008 e dirigido por Edvins Snore, diretor letão e mestre em ciência política. Snore nos oferece uma leitura do regime soviético que não encontraremos em nossas salas de aula nas escolas e universidades.

Snore recorre a documentos históricos da época do regime, à opinião de especialistas e a testemunhas dos massacres perpetrados para mostrar que os crimes soviéticos foram tão ou mais abomináveis do que os dos nazistas. O ponto alto do documentário é justamente o momento onde somos apresentados às relações amistosas que Stálin mantinha com Hitler e que redundaram, entre outras monstruosidades, na deportação de judeus que buscavam asilo na URSS à Alemanha Nazista.

Conforme a sinopse do documentário apresentada na sua página oficial:

“‘The Soviet Story’ é uma história de um poder Aliado que ajudou os nazistas a perseguir os judeus e que chacinou seu próprio povo numa escala industrial. Apoiados pelo Ocidente, esse poder triunfou em 9 de Maio de 1945. Seus crimes foram feitos tabus, e a história completa do mais assassino regime Europeu nunca foi contada. Até agora…”

Depois de ver o documentário fica uma estranha sensação. Se o Nazismo é, por bons motivos, considerado um crime e a divulgação de sua ideologia é combatida em grande parte do mundo Ocidental, porque o comunismo é tão bem aceito? Porque partidos declaradamente stalinistas, como o brasileiro PCdoB, podem atuar livremente e inclusive possuir cadeiras em nossas câmaras e cargos públicos? Lembremo-nos do último ministro do esporte, oriundo das fileiras do PCdoB, que foi denunciado por corrupção e perdeu o cargo.

Sem mais delongas, esse documentário é fortemente recomendado por essa humilde escriba. Não percam! E mais, divulguem!

 

Mais informações: página sobre o documentário na Wikipédia. Página oficial do documentário.

 

Documentário disponível na internet.

 

Áudio: Inglês

Legenda: Português

Parte 4

Parte 5

Parte 6

Parte 7

Parte 8

Parte 9 (final)

 

Bananadas tropicais

Há os indignados e há os bananas

Artigo de Clóvis Rossi

Publicado em: Janela para o Mundo

O Brasil e a Índia têm nota igualmente baixa, aliás próximas uma da outra, no IPC, o Índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional, respeitada ONG que mede não a corrupção propriamente dita, porque é “imedível”, mas como ela é percebida em cada país.

A nota do Brasil, no IPC mais recente, foi 3,7; a da Índia, 3,3. Ambos os países a anos-luz da Dinamarca e seus 9,3, a primeira colocada em limpeza.

Se a percepção é parecida no Brasil e na Índia, então a reação em cada país também é parecida, certo? Errado, completamente errado. Na Índia, Anna Hazare, militante anti-corrupção, está iniciando nesta sexta-feira uma greve de fome em um parque público, acompanhado por milhares de seguidores.

No Brasil, o pessoal manda cartas indignadas para os jornais, mas não tira o traseiro da cadeira para se manifestar.

A repercussão das diferentes atitudes é inexoravelmente diferente: o movimento de Hazare está em todos os meios de comunicação de respeito no mundo todo, Brasil inclusive. Já a passividade do brasileiro ganhou uma perplexa coluna de Juan Arias, notável jornalista espanhol (um respeitado “vaticanólogo”, aliás), hoje correspondente de “El País” no Brasil.

Arias se perguntava porquê não havia no Brasil nada nem remotamente parecido com o movimento dos “indignados” que não sai das ruas da sua Espanha (sólido crítico do Vaticano, aposto que Arias, se estivesse em Madri, estaria nas ruas agora, ao lado dos que protestam contra o que consideram gastos excessivos para receber o papa Bento 16, em um momento de aperto orçamentário generalizado).

O que chama a atenção, na comparação Brasil x Índia, é o fato de que os escândalos mais recentes no gigante asiático têm pontos de contato com o noticiário brasileiro.

Há, por exemplo, fundadas suspeitas de gastos abusivos para organizar os Jogos da Commonwealth, a comunidade de países que foram colônias britânicas. No Brasil, a organização da Copa do Mundo-2014 está cercada de temores, mas ninguém, até agora, fez qualquer protesto público parecido com o da Índia.

Nesta, há também suspeitas sobre negociatas no setor de telecomunicações. No Brasil, uma empresa do ramo comprou outra, o que era proibido por lei. A empresa foi punida? Não, a lei foi modificada (no governo Lula), para permitir o negócio. Você ouviu falar de alguma manifestação a respeito?

Se você preferir outra comparação, mudemos de continente e fiquemos aqui nas imediações: os estudantes chilenos, como os indignados espanhóis, não saem das ruas, exigindo educação pública e de qualidade. Preciso dizer que, em todas as avaliações internacionais comparativas, o Brasil fica sempre nos últimos lugares? Os estudantes brasileiros se mobilizam? Sim, para exigir meia entrada nos cinemas, atitude positivamente revolucionária.

Difícil escapar à constatação de que não somos indignados e, sim, bananas.

Saiba quem votou a favor do aumento ABUSIVO dos parlamentares

Pois é, compatriotas, o ano termina com mais uma notícia, digamos, desoladora vinda do nosso ilustre Congresso Nacional. Como as senhoras e os senhores já devem estar sabendo, os parlamentares votaram a favor do aumento salarial…. dos próprios! A partir do próximo ano receberão 61,7% a mais! Não, a senhora não leu errado! Não, o senhor não está tendo alucinações! Os parlamentares “se auto deram a si próprios” um aumento de mais de 50%. Ou seja, 2011 será ótimo para os Tiriricas do Congresso já que ganharão R$ 26,7 mil por mês.

Já que não somos palhaços, vamos anotar o nome das gracinhas que fizeram isso para jamais votarmos neles novamente, combinado?

Confira aqui a listinha “marvada”.