Archive for the ‘ E quem deve? ’ Category

A miséria do socialista

Todo socialista é um miserável por excelência. Sua miséria não está relacionada com falta de recursos materiais, evidentemente, mas com a falta de recursos intelectuais. Um socialista é um miserável intelectual. Ele é incapaz de perceber os fatos mais óbvios da existência humana e o principal deles é a nossa condição mais elementar: somos animais grotescos, instintivos e egoístas e, pela nossa natureza social, ansiamos por nos distinguir dos nossos companheiros de espécie.

Paradoxalmente nossa natureza conflitante é causa das transformações que melhoram a qualidade de nossas vidas. Sem a possibilidade de nos diferenciarmos, sem o bônus da distinção, não caminhamos. Ficamos estagnados e dissolvidos no meio de uma multidão de iguais. Sem ambição, sem sonhos, sem delírios de grandeza, perdemos o brilho, a capacidade de inovar, a paixão.

Todas as experiências que tentaram eliminar a possibilidade da distinção foram fracassadas. A União Soviética não precisou ser militarmente derrotada pelos Estados Unidos, ela apodreceu por dentro, foi corroída pela própria estrutura construída para matar o individualismo e, por conseguinte, os indivíduos.

Tentar criar uma sociedade de iguais não é uma utopia, é um crime contra a humanidade!

Os cubanos mortos na aventura da travessia de águas traiçoeiras em busca da terra das oportunidades provam isso. Os chineses enriquecem enquanto são calados com diligência pelo partidão, mesmo assim burlam o sistema das formas mais criativas possíveis. Ganhar só faz sentido quando podemos mostrar os frutos da vitória para o mundo, quando podemos nos destacar.

Precisamos sonhar com a possibilidade de sermos diferentes.

Socialistas não sabem disso. Vivem no insano plano teórico de uma sociedade idealizada que cobra o preço de nossa eliminação. São a exceção, mas querem se impor como a regra e acusam aqueles que não corroboram com seus planos malvados de ignorantes. Se ilustrada, as multidões abandonariam suas bandeiras nacionais, seus sonhos pessoais, a favor de uma bandeira internacional, de uma sociedade de iguais. A verdade que eles não reconhecem é que suas revoluções foram operadas por poucos que só domaram a multidão a custo das maiores atrocidades! Atrocidades justificadas em nome do bem da maioria que eles controlam com as maiores ameaças. As “revoluções” ainda de pé caminham sobre o terror do povo que juram proteger. Os miseráveis são também arrogantes, afinal.

Eugenia

Estou lendo, e devo dizer que isso já faz certo tempo por causa de falta de tempo, o polêmico livro de J. Philippe Rushton “Raça, Evolução e Comportamento”. Nele o autor questiona a idéia de que é o meio onde vivemos, e tão-somente o meio, que determina nosso sucesso escolar/acadêmico, profissional, o rumo de uma vida honesta, enfim, que determina o que seremos, como seremos e para onde iremos enquanto indivíduos relacionados com a sociedade. O livro é praticamente herético se considerarmos que o autor chama a atenção para fator raça como marcador de uma forte tendência para os rumos de nossas vidas. Ora, é bastante conhecido que a própria idéia da existência de “raças humanas” foi lançada para o limbo e a promoção da concepção da raça enquanto uma construção social sem qualquer embasamento biológico se sagrou como a aceita, e de tal modo que no nosso país, se a questionarmos, corremos o risco de sermos acusados de racistas e pararmos na cadeia. Racismo é uma coisa, racialismo me parece outra…

Ainda estou engatinhando nesses estudos, de modo que não tenho como testar com serenidade e segurança as hipóteses de Rushton e não sei se concordo ou não com ele. Mas discordo, e discordo muito, do status de tabu que o tema ganhou e das acusações feitas contra aqueles que apenas ousam questionar o que aprenderam na escola e na televisão. A ciência e o conhecimento não podem parar por causa de pessoas sensíveis (idiotas) que pensam que as pesquisas devem corroborar com o que elas consideram certo.

Mas o fato é que o tema tem me fascinado e quando posso procuro mais informações. E hoje numa dessas buscas encontrei um artigo sobre Eugenia. Se você não sabe o que é isso, leia o artigo e encontrará algumas explicações.

Reproduzo os primeiros parágrafos seguidos do link onde o texto foi originalmente publicado. Boa leitura!

Defesa da Eugenia

Por Marian van Court

A décima primeira edição da “Encyclopedia Britannica” define Eugenia como “ o melhoramento orgânico da Raça através da boa aplicação das leis da hereditariedade.” A maior parte das pessoas tem um branco quando ouvem essa palavra, ou ela conjura imagens de suásticas e Nazistas em marcha. Mas a Eugenia tem tido uma longa história, que se alcança a Roma Antiga e mesmo antes.
A Eugenia está preocupada com a direção atual da evolução humana. Milhares de artigos tem sido publicados em revistas acadêmicas, toneladas de poeira tem sido erguida por escovinhas em busca de caveiras, vastas quantias de dinheiro dadas a pesquisadores, e muitas carreiras gastas tentando descobrir como evoluímos cérebros maiores e inteligência superior até chegarmos ao Homo Sapiens, e essa é uma iniciativa fascinante e digna. Mas o que é urgente, o que é indiscutivelmente a questão mais importante encarando nossa espécie, é em que direção os seres humanos estão evoluindo exatamente agora. Estaríamos evoluindo em uma direção favorável, ou em uma direção desfavorável?

Continue lendo no Legio Victrix.

A arte do desrespeito

ou morto?

Dizem que brasileiros reclamam muito, é verdade, mas muitas vezes temos razão. Praticamente todo cidadão é um consumidor, e assim, todo cidadão brasileiro é um sofredor. Certa vez fui ludibriada pela operadora de telefonia móvel Vivo. Entrei em contato com o Procon que julgou minha reclamação procedente. A atendente do Procon, muito gentil, me orientou como levar adiante minha justa causa. Entrei em contato com a Anatel para fazer a reclamação, mais uma vez fui informada que minha reclamação tinha todo o cabimento. O próximo passo foi voltar ao contato com a Vivo, e dessa vez com a certeza de que seria atendida já que tinha o aval do Procon e da Anatel e segui rigorosamente o trâmite. A atendente da Vivo me enrolou por uns bons minutos e numa daquelas “aguarde, por favor” esqueceu de colocar o telefone dela no mudo, de modo que ouvi a conversa que se desenrolou onde ela falava com o gerente/monitor ou sabe-se lá quem, que eu havia ligado várias vezes e fui devidamente enganada pela Vivo, mas que daquela vez eu tinha o aval do Procon e da Anatel, como parecia constar no sistema. E fiquei ouvindo a conversa me sentindo uma perfeita idiota. Mantive o silêncio para conseguir captar tudo o que aquela mulher falava para o cara. Senti meu corpo tremer de ódio com o tom irônico da voz dela. Assim que ela notou que não havia colocado no mudo desligou imediatamente o telefone na minha cara! Passado um tempo, misteriosamente, o aval da Anatel desapareceu.

Isso é surpreendente? Não, estimados leitores.

Numa matéria do UOL de abril de 2011 vemos a denúncia dos benefícios dados por diretores da Anatel para empresas que disputavam licitações públicas. Claro que “favores” de agentes públicos sempre envolvem propinas. Amigos, se há alguém entre vocês que acredita que a Anatel – uma agência reguladora PÚBLICA – está a favor de nós, desculpe informar, mas não é verdade. Por que vocês acham que contratamos um serviço de internet banda larga de 10 Megas e recebemos um de 3 Megas, por falta de disponibilidade de sinal, segundo as operadoras, e mesmo assim a Anatel fica recolhida a sua insignificância? No dia 4 de agosto de 2011 a Anatel aprovou uma proposta de regulamentação da prestação de serviços de banda larga no Brasil realmente fascinante. Quer saber? Pois o Conselho Diretor da Anatel decidiu que as operadoras deveriam garantir 20% da velocidade vendida. Pois é, você compra um serviço e a agência que o regula define que o fornecedor só precisa entregar 20% do que vendeu. Imagine você comprar 1 quilo de carne no mercado e receber duzentos gramas? Pois foi essa a decisão da Anatel para nos beneficiar! Nossa, nem sei como agradecer! Mas calma, depois de um ano da proposta maravilhosa, as operadoras deveriam garantir 30% da velocidade vendida, um tempo depois 40%. Não é fantástico?

Cabe lembrar que a Anatel é a Agência Nacional de Telecomunicações (ah, essas siglas!). Isso significa que ela não regula apenas nossos celulares e internet, mais também os serviços de televisão e rádio. O órgão máximo da Anatel é o conselho diretor formado por cinco conselheiros que devem ter reputação ilibada e conhecimentos significativos sobre a função. É assim? Pois saiba que os conselheiros são escolhidos por indicações políticas e os partidos brasileiros disputam a tapas o “direito” de indicar seus nomes. Trata-se de interesse político, amigos, não de escolha baseada em méritos. Até o final de 2012, por exemplo, uma das conselheiras é Emilia Ribeiro, colocada lá pelas mãos de ninguém mais ninguém menos do que Renan Calheiros e José Sarney. Quem achava que o sarneizão só coronelizava o Maranhão está enganado. Com a iminência do processo de nova escolha de conselheiros começa a corrida ou pela reeleição de Emilia Ribeiro ou pela escolha de Daniel Slavieiro. Quem é o fulano? Só o ex-presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão e atual diretor-geral do SBT. Ou seja, um cara que trabalha para aqueles que, se escolhido, deverá fiscalizar e regular. (Fonte)

Por acaso eu já mencionei que a família Sarney é dona da Rede Mirante, uma emissora maranhense afiliada da Rede Globo?

Nessa trama macabra evidentemente que a babaca aqui seria descartada e humilhada pela Vivo e abandonada pela Anatel. Sou só uma brasileira, só mais uma otária numa multidão formada por milhões.

Dizem que brasileiros reclamam muito, é verdade. Dizem que brasileiros reclamam e nada fazem. É verdade também. Eu, todavia, já cansei de ser só uma reclamona.

A Revolução dos Idiotas

Há observadores do tempo tão sagazes que suas leituras sobrevivem para além de seus tempos e, surpreendentemente, tornam-se cada vez mais verdade no decorrer dos anos. É o caso de Nelson Rodrigues, um autor que muito me agrada e que tinha o raro talento de escrever primorosamente tanto crônicas literárias quanto crônicas… documentais, digamos assim.

Nelson Rodrigues cunhou uma idéia muito interessante chamada “a Revolução dos Idiotas”. Há muito tempo os idiotas viviam recolhidos em sua insignificância e deixavam que os melhores pensassem e decidissem por eles. Num determinado momento – e o marxismo tem uma grande parcela de culpa nisso, mas não só o marxismo – os idiotas notaram que eram a maioria e começaram a ocupar todas as esferas de um Estado, mais grave, da civilização ocidental.

A finada Rede Manchete transmitiu em 1992 um documentário baseado no argumento de Nelson Rodrigues. Já encontrei esse documentário em vários blogs, mas pela visualização dos vídeos no Youtube percebi que ele ainda não foi suficientemente assistido. Então disponibilizo os vídeos aqui no ContraDemocracia para que meus [in]fiéis leitores possam desfrutar dessa beleza e divulgar em suas redes sociais.

A causa assaltada

Há um vídeo muito interessante da escritora nigeriana Chimamanda Adichie onde ela disserta sobre o perigo de uma história única. Uma história que só se escreve pelo ponto de vista do outro e cala os descritos, como se fossem incapazes de falar por conta própria, como se precisassem sempre de alguém para orientar seus pensamentos, ações e desejos. Essas pessoas despertam pena e, por compaixão, devem ser conduzidas pelas mãos por seus salvadores que sabem o que elas devem fazer para escapar da miséria.

            O relato eletrizante de Chimamanda Adichie me veio à mente quando li um texto que trata do Fórum Social Temático ocorrido entre 24 e 29 de janeiro de 2012 postado no site Ciranda.net. O dito texto mencionava um senhor que se perguntava como fazer para atingir os 99% ou seja, a população alvo dos debates ocorridos no fórum, a maioria, as crianças que relutam aderir à luta dos salvadores do Fórum e tantos outros reunidos sob alcunhas chamativas que visam expressar o quanto estão comprometidos com a salvação da humanidade.

            Arrisco dizer que, no alto de seus pedestais, os salvadores não cogitam a hipótese de não representarem os 99%. Afinal, eles foram eleitos pelos 99%? Os 99% pediram pela redenção, rogaram por ajuda ou realmente se preocupam com os problemas denunciados e superestimados pelos salvadores?

            Essas pessoas abnegadas que perdem horas de seus dias encerradas em salas climatizadas muitas vezes pagas com dinheiro público acreditam com enorme fé que são as bandeiras deles que devem ser hasteadas pelos 99%, caso contrário se evidenciará a ignorância dos 99% que devem ser trazidos à luz em suas oficinas de formação onde, no fim, eles formam a eles próprios.

            Os salvadores são majoritariamente pessoas que vivem em apartamentos confortáveis em grandes centros urbanos e se sentem terrivelmente incomodados pela própria condição, embora jamais pensem em abandonar suas ilhas de prosperidade. Como estão incomodados e como não querem largar o osso se lançam em empreitadas fabulosas para libertar os miseráveis. Se pensarmos bem, eles não estão de fato preocupados com os miseráveis, com os 99%, com os coitados, eles estão preocupados com eles mesmos, eles querem o fim da própria culpa. Repito, da própria culpa, pois se a culpa não fosse deles os 99% certamente não precisariam daquelas mãos santas, os 99% se mobilizariam por conta própria.

            A propósito, nunca é demais lembrar que muitas vezes os abnegados são pagos para empreender suas tão nobres missões.

Confira o relato de Chimamanda Adichie: parte 1 e parte 2 (legendado em português!)

Cuidado com o processo: Macacos me mordam!

Popularizou-se uma visão errada do conhecimento produzido a partir da Teoria da Evolução de Darwin e Wallace segundo a qual a evolução segue um rumo definido que redundará no surgimento de seres mais inteligentes. Pelo o que sei de biologia, evolução não necessariamente tem a ver com mais inteligência. Mas há erros tão repetidos, tão divulgados, que tentar corrigi-los é uma tarefa digna de Hércules.

E nessa cadeia de equívocos criaram uma hierarquia maluca dos seres vivos. Nós, humanos, detentores de uma inteligência significativa estamos no topo, já os macacos, nossos primos pobres, são como humanos que deram errado. E surgiu o xingamento máximo que pode levar qualquer desavisado para a cadeia sem direito à fiança: “Macaco”.

Chegou a tal ponto que tenho medo de chamar um chimpanzé de macaco. Mentira, exagero. Mas não escondo meu receio diante do surgimento de verdadeiros vigilantes atentos a todas as palavrinhas que escrevemos na internet, falamos em público ou soltamos num momento de raiva. Essas pessoas se acham aptas a patrulhar, julgar e condenar na velocidade de um raio sem ao menos cogitar a real possibilidade dos danos que uma acusação de “racismo” pode gerar na vida de uma pessoa, ou qualquer outro tipo de acusação.

Conto isso a partir de um caso real que presencie no Facebook, a mais nova praça pública da sociedade brasileira. Um rapaz se referiu a uma jovem negra como “macaca”. Falando assim realmente podemos concluir que ele é um baita de um racista. Uma dessas guardinhas da rede acima do bem e do mal e protetora dos pobres e oprimidos – e se a informação interessar, bem branquinha – acusou o cara de racista e espalhou o print do ocorrido para toda a sua rede de amigos. Muitos deles, sem se indignar a apurar melhor o ocorrido, espalharam a mensagem da Guardinha 1 (vou chama-la assim), e o que era um comentário feito ingenuamente em um mural restrito à amigos se transformou em uma mobilização contra o mais novo “racista” do pedaço. O fato é que a patrulheira convenientemente ignorou a explicação do rapaz e dos amigos do rapaz que se mobilizaram também para defendê-lo: ele chama TODO MUNDO de “macaca”, é a forma como ele se refere aos amigos, sejam eles homens, mulheres, negros, brancos, amarelos e o que mais vier à mente na nova classificação da espécie humana que não pára de crescer.

Mas a Guardinha 1 e seus coleguinhas ignoraram veementemente a explicação. Bastou ver numa mesma frase “negra” e “macaca” para, ensandecidos, acusarem o moço de um crime grave, inafiançável e imprescritível segundo nossa legislação. Tive pena do moço, e também de nós, que temos um pé nas árvores e não deixamos de ser macacos: pelados, cabeçudos e espertos… quer dizer, supostamente espertos.

Trago uma famosa citação de Martin Niemöller que não tem muitos paralelos, ainda, com o que anda acontecendo. Ainda, e ênfase no “AINDA”, não há uma perseguição sistemática operada com os aparelhos do Estado no nosso país. Mas algumas pessoas usam mecanismos estatais que se proliferam para empreender uma verdadeira patrulha ideológica no Brasil.

Leia atentamente as palavras de Niemöller. A história é uma ópera bufa atolada de fanfarrões e com raros heróis. Quais serão os próximos mártires?

Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse” (M. Niemöller)

 

“Quis custodiet ipsos custodes?”

STF retoma o julgamento sobre a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa

Atenção!

 Amanhã, dia 15 de fevereiro de 2012, o Supremo Tribunal Federal retomará o julgamento sobre a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa. Algumas pessoas estão propondo um twittaço hoje a partir das 21h a favor da Lei. Há uma petição no Avaaz a favor da lei também. Se você concorda com a lei não deixe de se manifestar. Assine a petição e participe do twittaço de hoje!

 Saiba mais sobre a Lei da Ficha Limpa

 Assine a petição

 Consulte a pauta do STF

 Participe!

O que é democracia?

O que é democracia? Uma pergunta comum, mas com respostas difíceis. Winston Churchill além de um político acima da média foi um pensador excepcional que tinha a rara qualidade de escrever muito bem. Ler Churchill é um prazer em vários sentidos, não desagradaria uma pessoa interessada em teoria política e história e tampouco um amante de um texto literário. Churchill comentou que a democracia era ruim, mas era a melhor opção dentre as disponíveis. Mas de que tipo de democracia estamos falando?

A democracia em geral é reduzida nos discursos que circulam no Brasil ao direito ao voto. A época das eleições é comumente chamada de “festa da democracia” como se o ato de escolher um representante fosse a manifestação máxima do espírito democrático. Mesmo tendo em vista que em nossa pátria o voto não é um direito, é uma obrigação, um pressuposto para a idéia de cidadania. Deixe de votar e perca seus direitos mais fundamentais: um transgressor dessa norma está impedido de tirar o passaporte e deixar o país, tal como em Cuba onde a blogueira Yoani Sánchez já teve dezenas de pedidos de deixar o país negados; deixe de votar e perca o direito de exercer cargos públicos, não importa se você passar em primeiro lugar no concurso público mais difícil, sem votar você é impedido de assumir o cargo. Quando passei no vestibular uma das exigências para os calouros na maioridade era apresentar o comprovante de quitação eleitoral, deixe de votar e seja impedido de cursar uma universidade pública. Enumerei três situações: direito de ir e vir, direito de exercer uma atividade profissional, direito de estudar! Três direitos negados a quem não quer participar da “festa da democracia”. Há algo de muito errado ai.

Lendo argumentos a favor do voto obrigatório me deparei com um particularmente ridículo: a obrigação do voto força as pessoas a discutirem política. Quer dizer que devemos ser forçados? Quer dizer que somos tão tolos que precisamos de leis para nos obrigar a pensar sobre o nosso país? Ora, nem preciso ir tão longe, a obrigatoriedade do voto realmente nos faz discutir política? Podemos até discutir, mas fazemos pouco.

Mas não entramos ainda no pior cenário.

Ora, essa obrigatoriedade do voto leva pessoas que na maior parte do tempo nem pensam e tampouco discutem política a votar simplesmente porque não obrigadas. E nesse caso não votam no melhor projeto político: mas no candidato mais simpático, com uma propaganda mais sedutora, no engraçadinho, no moço que distribui camisetas e promete consertar o asfalto da rua! Muitas vezes esses candidatos mais sedutores e sem qualquer projeto político consistente são os mesmos que jogam o dinheiro público na vala da corrupção, dinheiro que falta aos hospitais, escolas, segurança pública, saneamento básico, etc… e sem hospitais perdemos o direito à saúde e ao bem-estar e não raramente a vida; sem escolas perdemos o direito a educação e formação e, pasmem, capacidade de discutir seriamente política; sem segurança pública perdemos o direito de ir e vir e muitas vezes o direito a vida; sem saneamento básico uma camada não desprezível da população está exposta a doenças erradicadas na maioria dos países desenvolvidos. A obrigatoriedade do voto, a “festa da democracia”, redunda assim no cerceamento de garantias e direitos individuais.

Não, a vivência democrática não se realiza no voto, mas na experiência plena dos direitos individuais. Essa é a maior conquista que a democracia nos legou, conquista que se perde no regime político burro que experimentamos no Brasil e que pode ser chamado de muitas coisas, menos de um regime democrático.

Num regime democrático digno do título o voto não é um direito, mas um dever voluntariamente assumido por pessoas que discutem e amam política, que discutem e amam política de modo a escolher muito bem seus representantes. Que escolhem políticos baseadas nas idéias do bem comum, da coisa pública, e não em problemas localizados, não a partir do egoísmo de quem só consegue olhar para o próprio umbigo ou acha que se um panaca o faz rir já merece seu voto.

É hora de problematizarmos a democracia que vivemos, é hora de propormos uma ContraDemocracia.