UPPs e como enganar (mais uma vez) o povo do Rio de Janeiro
Acho que é evidente para muitas pessoas que a presença do Estado nas comunidades carentes, eufemismo para “favelas”, é condição de extrema importância para o combate à violência que assola as grandes capitais brasileiras. Por isso, quando o Governo do Estado do Rio de Janeiro no mandato de Sérgio Cabral começou o programa das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) fiquei bastante empolgada. E não só eu, já que Cabral foi reeleito governador com uma margem alta de votos.
As UPPs eram um primeiro passo para que os policiais ocupassem efetivamente as favelas e deixassem de fazer incursões ocasionais e pouco promissoras a longo prazo. Com a presença da polícia o terreno estaria preparado para a ocupação estatal e todos os serviços que o Estado tem a obrigação de oferecer para seus cidadãos. Em contrapartida os cidadãos poderiam ostentar esse título com propriedade, já que teriam que pagar pelos serviços que utilizam: internet, telefone, energia elétrica e água, além dos impostos que todos nós pagamos para mantermos nossas moradias. Direito e obrigação, esses dois conceitos devem estar aliados se queremos falar sobre dignidade.
Não demorou muito para que o já afamado pastiche das políticas públicas brasileiras se revelasse.
E o governador foi revelando aos poucos seu talento para a verdadeira política brasileira, que pode ser sumarizada pelo adjetivo “corrupta”. Entre passeios de avião e helicóptero bancados pelo bilionário Eike Batista e leis que beneficiavam ricaços e suas construções ilegais em áreas de proteção ambiental, como aquela que deu uma mãozinha para o “benfeitor” Luciano Huck, o governador fingia que não via a violência se espalhar pelo Estado, desapareceu com a tragédia da queda dos edifícios no Centro do Rio de Janeiro e parece não estar muito preocupado com a demora na reconstrução das cidades da região serrana arrasadas com as fortes chuvas que derrubaram casas e destruíram famílias, enquanto prefeitos calhordas desviavam as verbas direcionadas para a recuperação das cidades.
E agora vemos o efeito colateral da “política pública” enganadora vindo com toda a força. A cidade de Niterói, um lugar adorável e que tem um dos maiores IDHs do Estado, está cada vez mais refém dos bandidos que fugiram das favelas pacificadas. E as UPPs mostram o que realmente são: o velho jeitinho, a arte de empurrar a sujeira para debaixo do tapete, ou melhor, para o outro lado da Baía da Guanabara.
Os moradores das zonas Norte e Oeste perceberam a verdade um pouco antes de nossos amigos de Niterói. Uma amiga moradora do bairro de Realengo há tempos comentava comigo sobre o quanto a região estava mais violenta. Tiroteios começaram a fazer parte da rotina, além de assaltos e furtos. As favelas de Santa Cruz e Campo Grande são palco para as disputas entre quadrilhas de traficantes por pontos de vendas de drogas. Enquanto isso enfeitamos o cartão-postal para fazermos bonito para o inglês ver.