Archive for the ‘ Geral ’ Category

Haka – o grito Maori

Haka é o nome dado para diversas danças e cânticos maoris. Maori foi o termo adotado por diversas populações nativas da Nova Zelândia, e falo em diversas populações porque o termo se disseminou com a chegada dos europeus à região, de modo que é muito provável que realmente se refira a vários povos. Esse tipo de fenômeno não é incomum, durante a colonização do Brasil, por exemplo, muitas tribos acabaram se reunindo e adotando um nome em comum, o que dá a falsa impressão de que sempre foram um único grupo. Esse processo tem um nome, chama-se etnogênese. Um dia eu falo mais sobre isso.

Mas vamos voltar à Haka.

A seleção de rugby da Nova Zelândia tradicionalmente realiza uma das danças haka, a “Ka Mate“, antes de seus jogos e isso ajudou a popularizar esse traço da cultura Maori por todo o mundo, mas também deu a falsa idéia de que a haka é somente um canto de guerra. De fato há haka (o plural é haka mesmo) que eram realizadas antes das batalhas, elas consistem em geral num canto forte, puxado por um líder, onde os outros guerreiros respondiam também cantando alto, batendo os pés, as mãos nos peitos ou nas pernas e fazendo caras ameaçadoras para os inimigos, a intenção era motivar os guerreiros e também amedrontar os adversários. Mas as haka podiam ser interpretadas em momentos de grande alegria ou para recepcionar um visitante ilustre. Além disso, a haka não é realizada apenas por homens, em muitas delas as mulheres acompanham os guerreiros, há haka ainda que são realizadas majoritariamente por mulheres e outras por crianças. A Ka Panapana, por exemplo, começa com as mulheres a frente dos homens.

A primeira vez que tive conhecimento desse tipo de dança foi no filme “A Encantadora de Baleias”. O filme é adorável e deixo como sugestão para as noites geladas que se aproximam. Enquanto isso, fiquem com alguns vídeos de haka que pesquei no Youtube:

Dia Mundial sem carro

Uma coisa que me deixa bem irritadinha é ver uma fila enorme de carros com apenas uma pessoa dentro. Se toda essa gente usasse transporte público os engarrafamentos nas grandes metrópoles diminuiria significativamente. Tá, eu sei que as opções de transporte público em muitas capitais deixam muito a desejar, mas é para isso que serve o direito inalienável dos cidadãos de reivindicar aos políticos ações que beneficiem as cidades, estados, países…

Sem muita elucubração…

Hoje, dia 22 de setembro, é o Dia Mundial Sem Carro. Faça uma forcinha, deixe o carro na garagem e experimente o transporte público – caso você tenha acesso fácil a ele, claro! – ou dê carona solidária: seu vizinho vai para o mesmo lugar que você? Dê carona! Tire um carro de circulação!

 

Leia mais sobre o Dia Mundial Sem Carro aqui! No mesmo blog há informações super legais sobre transporte público!

O TERRITÓRIO LIVRE DO HUMOR?

Recentemente uma série de polêmicas surgiu por causa de certas “piadas”.  E não falo só sobre aqueles desgastes oriundos dos comentários infelizes daqueles “humoristas” de um programa sensacionalistas e vulgar travestido de modernidades.

Créditos da Imagem: Mashpedia

O cantor mais bonito da cidade

Não é incomum quando pessoas públicas tentam remediar as besteirinhas que falam mediante o argumento “era só brincadeirinha”. O cantor gemedor Ed Motta há pouco justificou seus comentários sobre a beleza – ou falta de beleza – de alguns compatriotas justamente com essa desculpa, ele estava só brincando com os amigos quando disse que a maior parte da população brasileira – aquela mestiça desprovida de traços caucasianos – era feia.

            Não é difícil compreender o apelo a essa desculpa. Ora, criou-se um mito de que o humor é um território livre, você pode dizer absolutamente qualquer pasmaceira em forma de piada. Não se pode falar que o estupro é moralmente aceitável na maior parte das circunstâncias, óbvio, esse ato abominável e covarde causa no mínimo repulsa. Mas coloque um tom jocoso em alguma fala que insinue isso e ganhe a impunidade da piada. Há algo muito errado nisso…

            Não me surpreende que haja gente que realmente acredite nisso, me surpreende menos ainda constatar que essas pessoas dificilmente fazem parte do público alvo das brincadeirinhas. Essa gente raramente é mulher, negra(o), pobre. Duvido que aquele moço do CQC tenha sido alguma vez na vida estuprado, duvido que tenha sido expulso de um lugar porque estava amamentando seu bebê, duvido que seja órfão. É fácil fazer piada sobre algo que dificilmente se vai sentir na própria pele.

            Ele e muitos outros recorrem ao direito à liberdade de expressão para deslegitimar as críticas que recebem, pois bem, deveriam ler melhor nossa Constituição para perceberem que a liberdade de expressão tem limites, e o limite mais evidente é a dignidade daqueles que são alvos preferenciais do que chamam de “humor”. Parafraseando aquele velho ditado, se quiser falar o que quer, esteja preparado para responder pelo o que não quer.

            Se fazer piada está no âmbito do direito à liberdade de expressão, então fazer piada também está regulamentado dentro dos próprios limites da liberdade de expressão. Ora, vivemos numa sociedade onde se fala muito de direito, mas esquece-se sempre e oportunamente dos deveres e responsabilidades.

            Todo mundo que fala algo publicamente, caso ofenda alguém, está sujeito a um processo. Isso inclui, deve incluir, quando essa fala pública vem na forma de piadas. Não se trata de ser politicamente correto – e sinceramente não tenho nada contra o politicamente correto se ele significar respeito e responsabilidade – se trata de dizer que todos são responsáveis por seus atos e falas e devem responder por isso. O nome disso é dever, e sinceramente acredito que devemos parar de falar só de direitos, como se fosse um valor por si, e insistirmos nesse mantra: não há direito sem dever.

Quem tem medo das feministas?

Não há coluna do “comentador” da Folha de S. Paulo, o senhor Luiz Felipe Pondé, onde não apareça uma provocação às feministas, segundo ele, mulheres amargas e mal amadas. Nada de novo, essa opinião é quase tão velha quanto o Homo sapiens: mulheres indóceis, segundo eles, precisam de “pênisterapia” – tédio. O másculo e viril Pondé é, contudo, um obcecado. Não cansa de afirmar sua heterossexualidade, seu pênis infalível e sua frustração com as mulheres que não superestimam o seu falo: o pequeno deus que deve ser agradado pelas fêmeas da espécie. Eu lia a coluna do senhor Pondé, pois, ao contrários dos leitores medianos, não leio apenas textos que confirmem as verdades do meu mundinho e não tenho medo de me indignar. Parei de ler apenas porque é realmente sonolento saber dos complexos de baixa-estima dos outros. Pondé é só mais um macho ferido querendo chamar a atenção com máximas superficiais, pensamentos circulares e um público de boçais satisfeitos por saber da existência de um PhD que repete o que desejam ouvir. Típico de colunistas da Folha de S. Paulo e dos leitores desses colunistas.

Pondé e seus congêneres – com ou sem PhD – são apenas e tão-somente homens (as vezes mulheres) que se sentem desconfortáveis com a erosão de suas zonas estáveis: onde cada qual tem seu lugar determinado pela natureza de seus corpos. Não, não! Eu também fico entediada com revolucionários… a dinâmica da sociedade humana é irreversível e independe de gente com boina e cachimbo. Mudanças sempre acontecerão, para o bem de uns e para o mal de outros e entendo perfeitamente a preocupação dos afetados em preservar seu habitat. Mas é irritante quando isso é feito com cinismo, distorções e desonestidade. É por isso que digo: o que essa gente fala do feminismo é um absurdo logo nos seus princípios: não existe O Feminismo, mas diversas correntes feministas.

Há feministas liberais que defendem a liberdade absoluta das mulheres, e isso inclui o direito de escolherem sair na Playboy ou virar dona de casa. Há feministas que acham que mulheres não devem se relacionar com homens pois esse tipo de relação sempre cria uma situação de dominante e dominada. Há feministas que acham um absurdo a instituição familiar. Há feministas casadas e felizes com seus maridos. Há feministas que defendem o aborto, assim como há aquelas que não defendem. Há feministas que querem destruir a indústria pornô e há feministas que fazem filme pornô. Há, pasmem, homens feministas!

Meu conselho? Sempre que vocês lerem “as feministas” já liguem o desconfiômetro! Perguntem: qual tipo de feminista, cara pálida? As de Marte ou de Vênus…hehehe

Se existe algo que identifico em comum nas diversas correntes feministas é justamente aquilo que foi perfeitamente sintetizado na frase: “feminismo é a idéia radical de que mulheres são seres humanos”. Mulheres, escutem: se hoje vocês podem votar, se podem estudar numa universidade, se podem trabalhar, se podem sair às ruas de cabeça erguida, se podem virar presidente da república, se podem pedir o divórcio, casar com quem desejam, se podem ser quem são, desejar, sonhar, planejar, isso é graças às mulheres que lutaram e lutam pelos nossos direitos! Graças as várias feministas. E isso, essa nossa conquista, essas nossas CONQUISTAS, são intragáveis para pessoas que de tão medíocres precisam desesperadamente atacar os outros para desfrutarem de uma ilusão de superioridade.

 

Música que você provavelmente não conhece, mas vai adorar conhecer – Lhasa de Sela

Sou uma indisciplinada, isso já não é novidade. Mas prefiro escrever coisas poucas e raras – sim, raridade é mais questão de… bom, raridade, do que qualidade. O fato? Apesar do meu pessimismo tenho um quê de otimismo pois acredito valer a pena compartilhar certas coisas que, penso, engrandecem a alma.

Mas antes de começar, e fazendo justiça à minha indisciplina, convenhamos, é um baita tédio – para não dizer outra coisa – ler e ouvir por ai palavras apocalípticas concernentes às relações pessoais causadas pela ascensão das redes sociais. Ora, ao diabo com o ao vivo e a cores! Conheci pessoas fenomenais graças as redes sociais e tenho certeza  que, não fosse o Orkut e o Facebook, jamais as conheceria por uma razão simples: distâncias geográficas. Morasse eu em Curitiba, por exemplo, talvez eu esbarrasse com a mulher que lê línguas mortas e calcula a distância das estrelas; morasse eu em Riberão Preto nos idos de 2006 talvez conhecesse a jovem inteligente, ética e amante de mariposas com a qual debato horas sobre a miséria humana… e por ai vai. De qualquer forma, talvez.

Outro dia li um colunista de um jornal supervalorizado de Sampa que criticava as pessoas que viviam coladas com seus MP3 players ao invés de paquerar nos transportes públicos. Eu diria para esse sábio: idiota! Não troco minha “As Quatro Estações” de Vivaldi e meu Dostoiévsky por nenhuma paquera barata!  Não suporto desconhecidos que puxam conversa no metrô, não me interesso por eles. Meus amores e desabores encontro nos meus ambientes de interesse, e definitivamente os transportes públicos não estão incluídos na lista.

Em suma, adoro redes sociais! Não sou tola, dos meus 102 “amigos” do Facebook poucos são realmente amigos, todavia, são definitivamente 102 pessoas consideradas por mim interessantes, não o fossem não estariam na minha lista. Essas 102 pessoas interessante postam todos os dias coisas interessantes e graças a isso eu passo a conhecer preciosidades como a música introspectiva moldada pela voz melancólica de Lhasa de Sela.

Ah! Não posso descrever o deleite de ouvir a lindíssima “ Rising up” num final de tarde chuvoso e quente. Recomendo fortemente! Já disse e repito, não sou crítica de música. Sei o suficiente para afirmar que Justin Bieber e Parangolé são lixos adorados por desmiolados. Gosto de música elaborada, complexa, mesmo que seja simples, entendeu?

Pois Lhasa de Sela se encaixa muito bem no meu gosto eclético, mas seletivo! Depois da triste “Rising Up” você pode dá um up ao som de “La Celestina” com seu toque circense a animar uma letra reflexiva: todos sabemos da pena que dá dissecar pecadinhos.

Lhasa de Sela

Lhasa de Sela

Lhasa era sagaz, cantou em francês, inglês e espanhol. E cantou bem! Cantou? Sim, desgraçadamente ela deixou o  mundo há um ano e três dias, vitimada por um câncer de mama aos 37 anos de idade. Como são as coisas! No mesmo dia em que conheci essa moça de nome tibetado soube de sua partida. Ao menos a conheci, e graças ao Facebook e uma das 102 pessoas interessantes, membros da minha lista de amigos. Amigos? Talvez, amigos sempre compartilham coisas boas 🙂

 

POLITIZANDO CORRETAMENTE OS PALAVRÕES

 

Ziraldo

Estava a ouvir serelepe a “Paixão Segundo São Mateus” do querido J.S. Bach. Enquanto viajava no mais profícuo ócio googlei a obra e deparei-me, não sem uma exclamação de surpresa, com a notícia de que o bom Bach foi acusado de anti-semitismo por causa de sua Paixão. Essa notícia árida trouxe à memória capenga de vossa querida autora a história da censura do livro de Monteiro Lobato, “Caçadas de Pedrinho”, considerada – pasmem – racista. É notável a cegueira dos defensores da moral e dos bons costumes frente a algo tão necessário quanto o oxigênio: capacidade de contextualização.

Fico a matutar sobre o cúmulo da politização afirmativa, que essa gente que chama Bach de anti-semita e Monteiro Lobato de racista argumenta ser tão crucial para uma sociedade “justa e igualitária”. Pensem, intrépidos leitores, sobre a politização correta dos palavrões! Façamos esse exercício! Já que não parece mais absurdo a proposição de uma lei que nos obrigue a assim falar depois de uma bela topada ou uma decepcionante partida de futebol.

Vamos já começar a treinar para xingarmos de forma politicamente correta:

“Prostituta que deu à luz!”

“esperma!”

“necessidades fisiológicas!”

“filho da prostituta!”

“pênis!”

“substâncias ilícitas!”

“iníquo!”

“vá fazer sexo contigo mesmo!”

Lamentavelmente teremos que ignorar esses bons conselhos.

E vou indo para continuar a ouvir Bach e ler Monteiro Lobato antes de ascenderem as fogueiras.

Vai melhorar!

Em resposta ao aumento do número de suicídios de jovens homossexuais nos EUA, funcionários gays e funcionárias lésbicas da Pixar participaram de uma campanha muito bacana onde contam suas histórias e falam da superação dos males que a homofobia causa. Confira o vídeo (com legendas em português):

Homofobia é violência!

A homofobia pode se manifestar mediante violência psicológica , física ou, ainda, ambas.

Homofobia deve ser crime!

Pela aprovação do PLC 122/2006.

 

Música que você adora e não sabe

Eu fico realmente maravilhada quando ouço “eu odeio música clássica”. Penso comigo mesma “Ah, você não gosta do Mozart! E do Bach?”. Brincadeiras a parte, eu não vivo sem Música Erudita, não sou uma profunda conhecedora, mas procuro pesquisar e aprender cada vez mais, infelizmente as publicações de qualidade sobre Música Erudita costumam custar caro… bom, mas o cenário não é tão catastrófico! Pelo menos aqui em São Paulo é possível ouvir muita coisa legal por preços amigáveis. Há pouco assisti a ópera Norma no teatro São Pedro por módicos vinte reais e a montagem foi bem interessante. Sim, estamos longe da programação dos teatros europeus, mas estamos melhor do que há dez anos.

Mas vamos ao ponto. O fato é que muitas das pessoas que dizem “eu odeio música clássica” são motivadas por puro preconceito, já que na maior parte das vezes nunca colocou uma ária para tocar em seus MP3 (ou MP sei lá o que). Pois bem, muito embora nunca fizeram isso, certamente já ouviram algo erudito em filmes, desenhos animados ou qualquer outro treco da “cultura pop” e provavelmente gostaram de algo. Gostaram, perguntaram para alguém se conhecia aquela música super legal que tocou, muitas vezes não obtiveram respostas e ficaram na curiosidade.

Diante disso, resolvi selecionar algumas dessas músicas super legais e recorrentes na “cultura pop” e divulga-las aqui no blog, espero assim que se você é um dos que “odeia música clássica”, mas encontrou aqui uma que gosta bastante, se sinta tentada ou tentado a ouvir mais e superar esse preconceito idiota (#prontofalei).

Comecemos pela mais famosa: tocada em filmes, séries, programas sensacionalistas de auditório etc. Falo de O Fortuna. Não captou? Então veja esse trecho do filme Excalibur de 1981:

Viu? Pois bem, trata-se de O Fortuna, primeiro movimento da cantata Carmina Burana de Carl Orff, composta entre 1935 e 1936. Mas a história é mais interessante, pessoa! Sabe o que é Carmina Burana? Pois bem, é o conjunto de 254 poemas e textos escritos entre os séculos XI e XIII reunidos no manuscrito Codex Latinus Monacensis. Muitos desses textos, produzidos quase todos em latim, foram compostos pelos Goliardos, estudantes clericais autores de muitos escritos que satirizavam a Igreja. Carl Orff selecionou alguns desses poemas e compôs a cantata já citada. Então, com as senhoras e os senhores, o prólogo da cantata de Orff – Fortuna Imperatrix Mundi devidamente e anonimamente legendado por alguém esperto que traduziu direto do latim medieval para a última flor do Lácio.

A tradução está legal. Eu mudaria o início para “Ó fortuna/ Como a Lua / És mutável”, no mais penso que o sentido foi preservado. E mais uma coisa, entenda fortuna como sorte ou azar, como Roda da Fortuna, não como você aprendeu com o Tio Patinhas 😀